Sorriam - e o mundo inteiro cabia naquele sorriso. Qualquer palavra seria pouco perto daquele sorriso. Ainda assim tentaram falar:
Nossa, você está bonita demais, disse ele.
Nossa, quanta saudade, disse ela.
Beijaram-se brevemente e continuaram a subir as escadas, trocando palavras desnecessárias até chegar ao apartamento.
Entraram. A porta, enfim, fechada, e o sorriso, ainda, aberto.
Então o beijo.
Se no sorriso cabia o mundo, naquele beijo cabiam apenas os dois.
Mas "apenas" os dois não era pouco, pelo contrário. Conviviam naquele beijo todos os encontros e desencontros, concordâncias e desentendimentos, partidas e retornos, risos e lágrimas... Ali partilhavam tudo e nada, porque estavam ali inteiros - ou com todos os seus pedaços - e nada mais importava. Apenas viveram e entregaram-se um ao outro e aquilo que os movia para além de seu controle. Amaram.
Anos depois ela lembraria-se dessa cena com o carinho que lembramos daqueles momentos que não nos pertencem, mas nos constituem, tornam-se parte de nós, parte a ser partilhada novamente quando, se o acaso quiser e a razão permitir, enfim, nos distrairmos.
2 comentários:
dos momentos inesquecíveis, em que mais nos sentimos vivos.
São raros os colecionadores de momentos. Mesmo porque, são igualmente raros os momentos colecionáveis. Mas sempre um ou outro escapa nessa vastidão da vida...
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