tag:blogger.com,1999:blog-36515928805789898642024-03-26T23:49:45.122-03:00Letras e RestosCarina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.comBlogger94125tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-74281171530638437622012-10-14T17:57:00.001-03:002012-10-14T17:59:06.251-03:00Resenha: Os Enamoramentos, Javier Marías.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Georgia","serif";">“O que aconteceu é o de
menos. É um romance, e o que acontece neles não tem importância, a gente
esquece, uma vez terminados. O interessante são as possibilidades e ideias que
nos inoculam e trazem através de seus casos imaginários (...)”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Georgia","serif";">Essa afirmação, aparentemente estranha,
se prova absolutamente real ao ler “Os Enamoramentos”, de Javier Marías. Já li
vários livros dele, de muitos não lembro a história, mas a sensação depois de
cada um é a mesma: inquietação, curiosidade, vontade de ler mais, de estudar
mais, de viver mais. Claro que histórias são importantes num romance, e em “Os
Enamoramentos” temos vários elementos de uma grande história: um casal
aparentemente perfeito, uma morte súbita e violenta, um personagem que não é o
que parece à primeira vista. Porém, o que me prendeu ao livro foi mais do que
isso. Foi o que senti durante e depois da leitura. Porque há livros que nos
fazem esquecer a vida, viajar, fantasiar. E há livros, como “Os Enamoramentos”,
que nos fazem ler nossas próprias vidas, reconhecer nossos sentimentos, descobrir
um pouco mais sobre quem somos, e sentir que não estamos sozinhos. Afinal, quem
é que nunca se apaixonou? Ou melhor, se enamorou, que segundo Javier são coisas
diferentes. O enamoramento do qual ele fala no livro é </span><i><span style="background: white; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">“(...) sentir um fraco,
verdadeiro fraco por alguém, e que esse alguém produza em nós essa fraqueza,
que nos torne fracos. Isso é o determinante, que nos impeça de ser objetivos e
nos desarme perpetuamente e nos leve a nos render em todas as contendas (...)”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Se você já sentiu isso, certamente vai se identificar com as “burrices”
que Javier descreve, aquelas que só fazemos quando estamos desarmados - e
desamados. Os questionamentos e afirmações que ele faz acerca do caráter
mutável dos nossos sentimentos, e da impossibilidade de averiguar com acuidade
as palavras e intenções do outro, traduzem algo que faz parte do nosso dia a
dia sem que nos demos conta, mas basta ele falar para que percebamos como
aquilo é real. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Li a história de María, Miguel, Luisa e Javier traçando paralelos com a
minha própria história o tempo inteiro. E é isso, mais do que qualquer coisa,
que torna “Os Enamoramentos” um grande livro.
É um livro que é capaz de contar uma história que não é só aquela que
está escrita, mas é mais ainda aquela que lemos, e aquela que se inscreve em
nós. </span><o:p></o:p></div>
</div>
Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-38849858434426700272012-08-13T00:26:00.001-03:002012-08-19T11:57:26.295-03:00Pai<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Typewriter";">Pai,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Typewriter";"> eu deitei, abri o livro, mas não li uma
palavra. Não li porque essa outra palavra me interrompeu: pai. E no instante
que ela surgiu lágrimas brotaram, lembranças romperam barreiras, e a represa
arrebentou. E acho que preciso escoar toda água, toda mágoa, todas as letras
que crio tentando cercar o que sempre escapa: a falta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Typewriter";"> Você me faz falta. A sua ausência me
marcou, me marca, a cada dia. Hoje tenho o dobro da idade que tinha quando você
morreu. Isso significa que já vivi metade da minha vida sem você. Eu gostaria
que você tivesse estado ao meu lado nos “grandes momentos”: vestibular, formatura,
casamento, separação. Mas não é nessas horas que dói mais. A sua ausência pesa
mesmo é em momentos simples. Quando ouço Martinho da Vila e lembro-me da amizade
de vocês. Quando, no carnaval, a Portela desfila e lembro-me do chaveiro de
metal com a águia azul que você sempre usava. Quando o Fluminense foi campeão
brasileiro e pensei que a última vez que isso tinha acontecido eu era uma
menininha que você carregava nos ombros e levava aos jogos no Maracanã. E,
assim, sem motivo, quando abro um livro e ouço a palavra: pai. E sinto que
preciso te escrever. É isso, agora eu escrevo, pai. Os livros que você tanto
adorava tornaram-se meus companheiros ainda mais necessários desde que você se foi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Lucida Sans Typewriter";"> Comecei essa carta com uma necessidade
avassaladora de escrever sem saber como ou o que escrever. Agora acho que essas
letras são, como tudo que escrevo, tentativa de dar conta do que o pensamento
não consegue. Tentativa de construir uma borda que seja na tua falta, que é a
minha falta, que é o vazio e a solidão de todo e qualquer sujeito. E vivo
dividida entre buscar a solidão e fugir dela. Porque a solidão dói, mas estar
com o outro me assusta, pai. Eu tenho sempre muito medo de perder mais alguém
como perdi você. Cada vez que alguém sai da minha vida eu sinto tua morte de
novo. E dói, muito, então eu me poupo, afrouxo o laço, solto a corda, abro a
mão. A dor da solidão é sempre a mesma. A dor da perda é sempre nova, cada
perda re-significa todas as anteriores. Fugir do novo sempre me parece a melhor
opção. Mas ao mesmo tempo não quero ficar sozinha. Acho que também por isso
escrevo essas palavras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Typewriter";"> Eu preciso da tua mão, pai. Preciso que
você me ensine que a tua morte não te encerrou em mim. Que você continua aqui.
Que os laços, quando são reais, não se desfazem com a ausência, nem com a morte.
O laço que liga uma pessoa à outra é o mesmo que liga essas duas pessoas ao
mundo. Diz-me então, pai, com essas letras que eu escrevo, mas que vieram de
você, que a solidão existe, mas que ela não é tudo. Que os laços contornam,
amarram, seguram. Que nascemos e morremos sós, mas que as palavras já nos
diziam antes de nascermos e continuarão nos escrevendo depois que morrermos. E
que é por isso que escrevo. Éque, quando escrevo, não estou só. <o:p></o:p></span></div>
</div>
Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-59601495884259498162012-07-19T12:00:00.006-03:002012-07-19T12:03:31.776-03:00Vestida de Sentimentos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Acordei, como tantos outros dias, envolta em sonhos e coberta de esperança. Mas, ao levantar, percebi que eles não me aqueciam como antes. Estava de pé, com frio, te olhando deitado, a respiração ritmada, uma expressão tranquila no rosto. Invejei aquela tranquilidade, desde a noite em que deitei na sua cama pela primeira vez nunca mais a senti. O vento gelado que entrava pela fresta entre a porta e o chão trouxe culpa. Peguei-a, embrulhei-a com uma manta de mágoa e pus aos teus pés. Afinal, eu não tinha dúvida: a culpa da minha dor era sua. Suspirei, sentindo a decisão que já tinha tomado. Olhei-te uma última vez. Vesti-me de despedida, te entreguei parte da minha alma partida, e fui. </span></div>
</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-82585994283157346492012-07-19T12:00:00.003-03:002012-07-19T12:00:26.787-03:00Do que não se sabe<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Você me lê e acha que sabe o que sinto. Que entende o que eu digo, que consegue desvendar o silêncio que preenche as entrelinhas. </span><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Você me lê e acha que sabe da minha vida porque vez ou outra digo onde estive, o que li, ou que peça assisti. </span><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Você me lê e acha que sabe quem eu sou porque escrevo na primeira pessoa e as situações parecem reais. </span><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Você me lê e acha que sabe o que nem eu sei. Quando escrevo não sei o que sinto, não sei que vida levo, que vida evito, e não faço ideia de quem sou.</span><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><br style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Você me lê e acha que sabe, eu escrevo e acho que não sei. E é por isso que continuamos aqui.</span>
</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-62783879399148186972012-05-19T10:01:00.001-03:002012-05-19T10:05:12.157-03:00De príncipes e heróis<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">E aí você chegou. Ou melhor, eu cheguei. Você já estava lá.
Eu que andava em círculos sem parar, e você que me via e pensava, Será que ela
não fica tonta nunca? Eu ficava. Mas já não sabia mais como era viver sem estar
tonta, com o medo constante de que o chão desaparecesse. Até que um dia, nem
sei muito bem como, eu dei um passo pro lado. Saí do círculo, e o chão continuou
lá. Era estranho estar parada. Sentei, ali mesmo, ao lado do círculo marcado
pelos meus passos. Passei muito tempo sentada, olhando para o que um dia foi a
minha vida e achando aquilo meio cinza. Meio morto. Tudo me parecia assim e, se
eu não estava mais rodando sem parar, também não estava seguindo em frente.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">E aí você chegou. E me deu a mão. Eu levantei, e vi dentro
dos seus olhos escuros todas as cores que o mundo havia perdido. E no seu peito
encontrei um coração que batia numa melodia que eu há muito tempo não escutava.
Não sei, aliás, se já a tinha escutado. Mas me parecia familiar. Nós
caminhamos, e o seu cheiro também parecia familiar e, ao mesmo tempo, inédito.
Parecia cheiro de terra molhada depois da chuva. Cheiro de felicidade.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Então, quando você chegou, com essas cores e melodias e esse
cheiro, achei que você fosse ele. Mas você não é meu príncipe. Você é melhor.
Você é feito de carne e osso, e quando você me beija eu sinto gosto de sangue.
Gosto de vida. Quando eu deito a cabeça no seu ombro, sei que posso depositar
ali todo o peso que a vida me faz carregar. Ao descansar nesse ombro tão forte pensei,
Talvez ele seja um herói.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><br /></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Então, quando você chegou, com um corpo feito de vida e um
ombro de herói, eu entendi. Entendi porque era melhor que você fosse um homem,
e não um príncipe. Príncipes são fantasias, assim como deuses. Tudo para eles é
possível. Eles não têm coragem porque não sentem medo. Por isso, desde que o
mundo é mundo, os heróis são humanos. São homens, e cada um tem o seu calcanhar
de Aquiles, lembrando-o do risco, presentificando a morte. É na presença da
morte que se vive. O herói, por se saber finito, faz de cada chance uma pequena
eternidade. E é por isso que eu não preciso de um príncipe. Porque o amor é
para heróis. </span></span></div>
</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-18532602950727625122012-01-22T00:05:00.002-02:002012-01-22T00:09:59.495-02:00Eu sonhava.<div style="text-align: left;"><p class="MsoNormal" align="left"><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Bookman Old Style', serif; background-image: initial; background-attachment: initial; background-origin: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; ">Eu sonhava.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Bookman Old Style', serif; "><br /><span style="background:white">Eu fechava os olhos e sonhava, sem que você percebesse.<span class="apple-converted-space"> </span></span><br /><span style="background:white">Sem que você percebesse, eu abria os olhos e sonhava o mesmo sonho.<span class="apple-converted-space"> </span></span><br /><span style="background:white">Eu sonhava o mesmo sonho noite após noite, antes de dormir.<span class="apple-converted-space"> </span></span><br /><span style="background:white">Antes de dormir você me beijava, e me prendia no seu abraço.<span class="apple-converted-space"> </span></span><br /><span class="textexposedshow"><span style="background:white">Você me prendia no seu abraço e então eu era livre para voar.</span><span class="apple-converted-space"><span style="background:white"> </span></span><span style="background:white"><br /><span class="textexposedshow">Eu era livre para voar, então eu fechava os olhos e pulava.</span><br /><span class="textexposedshow">Eu pulava no abismo do sonho e não caía, eu voava.</span><br /><span class="textexposedshow">Eu voava de olhos abertos, e sonhava.</span><span class="apple-converted-space"> </span><br /><span class="textexposedshow">Eu sonhava o mesmo sonho, no qual você me beijava e me prendia no seu abraço, </span></span></span></span><span style="background-color: white; font-family: 'Bookman Old Style', serif; font-size: 12pt; ">sem nunca mais me soltar.</span></p></div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-14696695415997013152012-01-20T12:58:00.003-02:002012-01-20T20:25:41.193-02:00Calo por amor.<p class="MsoNormal" align="left" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><i>Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.</i><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" align="left" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); ">Tem frases que escrevo e que me perseguem. É sério: eu as escrevo, penso que me livrei, e, de repente, a frase ressurge como se fosse a primeira vez que... o que? Que a escrevi, que a ouvi, que a pensei? Não sei. Frases assim são como pedaços de real que passam por mim, me cortam, mas que não são minhas. Elas me atravessam e deixam essa marca que não cicatriza nunca, que sangra a cada vez que penso, que ouço, que escrevo.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><i>Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.</i><span style="font-weight: bold; "></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); ">Como assim calar por não poder falar tudo? É justamente por não conseguir falar tudo que eu falo. Falo, penso, escrevo, defino, grito, tudo tentando dizer o máximo que eu puder. Amor? Aí mesmo é que eu não me calo. Praticamente tudo que eu falo tem a ver com amor. Escrevo amor amor amor amor milhares de vezes tentando alcançar, entender, descobrir, saber o que é esse tal de amor que tanto me perturba.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><i>Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.</i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); ">Curiosamente lembrei agora de um dos primeiros posts do meu blog em que eu reclamava me calar por não saber falar de amor. E respondi à minha reclamação dizendo que o problema é que eu só falava do que sabia e organizava, e que era impossível organizar o amor. Parece-me que, daí em diante, resolvi que ia falar sobre amor até aprender. Então escrevi o amor em prosa e poesia, realidade e fantasia, felicidade e agonia, e ainda assim não entendi. Não entendo, não aprendo, continuo não sabendo.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><i>Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.</i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); ">E então, agora, esse calar. Que depois de tantas repetições (na minha cabeça e na tela do computador) me atinge de outra forma. É um calar diferente do calar por não saber ou do calar por conformismo de que não entenderei jamais o amor. Calei, no dia em que escrevi essa frase pela primeira vez, por me submeter ao fato de que não poderia explicar, e nem dizer tudo sobre o amor. Que mesmo tendo muito a dizer, mesmo tendo todas as palavras existentes e inventadas à minha disposição, ainda assim sobraria a falta. A falta, que é o que faz do amor, amor.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); ">Calo-me agora. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que digo quando amo. E é por isso que amo.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right; color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; line-height: 18px; background-color: rgb(254, 250, 253); "><span><span>*</span><span>Texto originalmente publicado <a href="http://feminino6.blogspot.com/2011/06/calo-por-amor.html">aqui</a>.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="color: rgb(51, 51, 51); font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: -webkit-auto; background-color: rgb(254, 250, 253); "><br /></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-40452486442263644412012-01-06T13:26:00.005-02:002012-01-06T21:30:22.056-02:00Inteligencia e/ou amor<div style="text-align: justify;">E então eu tenho quatro textos rascunhados há mais de dois meses sem conseguir terminá-los. Volta e meia retorno a eles, apago a metade, escrevo mais um tanto e de repente empaco. O que eles têm em comum além do fato de que eu não consigo colocar-lhes um ponto final? São todos textos "inteligentes". Textos sobre cultura, psicanálise, crônicas sobre o social. E aí hoje li um texto da Inês Pedrosa falando sobre a crença no amor, o segundo que li essa semana abordando o tema, e pensei: que saudade de escrever sobre o amor. Eu sou dessas pessoas que, como a Inês, acredita no amor como outros acreditam em deuses e santos. Eu adoro estar amando, não tenho problemas em me apaixonar e não me retraio por medo de sofrer. Mas, ao contrário do que possa parecer, isso não é uma coisa bonita e altruísta, nem mesmo corajosa. É apenas como as coisas são. Porém, como boa neurótica, eu não gosto de aceitar as coisas como elas são. Então, dentro do meu sintoma, crio uma dicotomia: ou sou inteligente, ou amo. E passo a vida, e perco a vida, buscando equilibrar duas coisas que só são opostas por invenção minha. A verdade é que eu realmente adoro falar de amor, ler sobre o amor, pensar, não entender, me irritar, ficar feliz, tudo ao mesmo tempo e sem ordem alguma. E também adoro ler textos de Lacan dos quais entendo pouquíssimo, passar horas conversando sobre as feridas narcísicas da humanidade ou explicando porque acho que o saber é hoje o deus mais cultuado no mundo. Só que, por algum motivo, é difícil pra mim aceitar que não são duas coisas, ou que até são, mas ambas estão misturadas em mim. E que o que escrevo vai surgir de acordo com o que acontecer na minha vida, e não porque eu decidi que já escrevi muita coisa romântica e está na hora de ser mais intelectual. Até acredito que para outras pessoas funcione assim, mas comigo não. Outra coisa que preciso aceitar: minha escrita, pelo menos aquela que me parece afetar os outros, não é racional. Meus textos "bons" são escritos no ímpeto, com algum trabalho depois, claro, mas o corpo tem que vir todo junto, de uma vez, senão nem adianta continuar. Por isso esse texto. Porque hoje, enquanto eu tentava relaxar para terminar algum dos outros, eu li sobre o amor, e o amor mais uma vez se escreveu, e tive a sensação que precisava escrever isso, preciso parar de lutar contra um pedaço de mim, para que todos os meus pedaços possam existir. Ao tentar eliminar um, elimino a mim, que sou todos esses pedaços desconexos, disformes e desencaixados que, na melhor das hipóteses, se deslocam e me fazem não parar. </div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-59350511157874400432011-11-22T15:55:00.000-02:002011-11-22T15:56:49.933-02:00resto<span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; background-color: rgb(255, 255, 255); ">Nada que sinto é sucinto.</span><br /><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; background-color: rgb(255, 255, 255); ">Tudo que penso é imenso.</span><br /><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; background-color: rgb(255, 255, 255); ">Tudo que minto é verdade,</span><br /><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 14px; background-color: rgb(255, 255, 255); "><br />e muito do que quero é vaidade.<br /><br />Algo do que sonho, pressuponho<br /><br />E quando muito espero, exagero.<br /><br />Tudo o que sei é relativo.<br /><br />Nada do que vivo é absoluto.<br /><br />Então, o que sobra?<br /><br />O resto.<br /><br />Que, sendo nada, é tudo.</span></span>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-12270639871689468482011-11-14T16:31:00.001-02:002011-11-14T16:32:35.413-02:00Lá<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;line-height: 120%; "><span class="apple-style-span"><span style="line-height: 120%; background-image: initial; background-attachment: initial; background-origin: initial; background-clip: initial; background-color: white; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-tab-span" style="color: rgb(68, 68, 68); white-space: pre; "> </span>Abro os olhos, mas continuo sem enxergar. Não me acho onde procuro, e só me encontro comigo lá onde nunca estive. No segundo seguinte o lá não é mais lá, mudou de lugar ou fui que mudei? Não sei. Nada, não sei nada, não sei nadar e me sinto buscando ar, quase me afogando no mar de sentimentos que me inunda o peito. Busco as palavras, agarro-me a elas como se fossem barcos salva-vidas, como se pudessem me resgatar e devolver-me à terra firme. Ilusão, a terra da vida nunca é firme. Não adianta fazer planos, o terreno em que caminho é acidentado demais, todo passo pode ser em falso, e cada queda inevitável é a chance de um novo começo. Levanto, pé ante pé, fé não sei bem em quê. No sujeito, no desejo, na distração que leva ao ato e a atadura que estanca o sangue me dá força pra continuar. Sigo. Não por saber aonde ir, nem sequer por querer chegar, mas porque... Por quê mesmo? Não importa, não sei se há motivo, continuo apenas, caminhando a duras penas, penas perdidas no último voo, penas que começam a nascer mais uma vez, talvez por isso eu siga, porque há quem diga que a vida só acontece uma vez e prefiro me perder lá do que só me encontrar, a sós, aqui.</span></span></span><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; background-image: initial; background-attachment: initial; background-origin: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; "><o:p></o:p></span></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-70854026220343579642011-09-13T18:51:00.000-03:002011-09-13T18:52:21.592-03:00Ódio?<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;line-height: 120%; "><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; "><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Eu só sei escrever sobre amor. Sou uma pessoa doce, melosa e brega. Tudo que escrevo cai nesse mesmo tema. Será que é isso mesmo? Na verdade sou muito menos doce do que gostaria, ou do que acho que deveria ser. Sou chata, intolerante, e altamente crítica. E não só amo. Eu odeio, fico irritadíssima e sei ser muito má. Só que acho isso ruim, então tento disfarçar. Por exemplo, estava agora mesmo irritada por sentir que não tenho escrito nada de novo, e ao mesmo tempo dizendo que não consigo me imaginar escrevendo outra coisa. Quando me defino assim, essa pessoa que só fala de amor, acabo me limitando. Se eu sinto raiva, se odeio, por que não falar disso também? <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;line-height: 120%; "><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; "><span class="Apple-style-span" > Então me veio a seguinte formulação: o ódio movimenta o mundo tanto quanto o amor. Dizem que a fé move montanhas, mas mesmo os religiosos são altamente influenciados pelo ódio. Todo o terrorismo atual e as guerras “santas” da história estão aí para provar. Parece loucura pensar que diferenças provoquem ódio e que um sentimento gere tanta destruição. Talvez por isso a dificuldade de falar de ódio, e minha resistência até mesmo em pensar nisso. Mas o fato é que todos nós odiamos. E como há infinitas formas de amar, também há um sem número de maneiras de odiar. Acho que aí reside a principal questão: o vilão não é o ódio, é o que fazemos dele. Por exemplo, eu estava aqui agora muito irritada. Com raiva, odiando um monte de coisas, pessoas, e até a mim mesma. E daí eu comecei a escrever. E, enquanto escrevia, as palavras correndo, comecei a pensar em coisas novas, ficar curiosa comigo mesma, com as minhas acepções acerca do ódio e de outros sentimentos ruins. Então tão repentinamente como me tomou, o ódio me deixou. Claro que nem sempre é assim, e não é possível fazer disso uma fórmula: quando odiar, escreva. O que aconteceu agora comigo foi apenas uma das possibilidades de lidar com o ódio. Mas basta uma para mostrar que não é preciso temer o ódio, a raiva ou qualquer sentimento. Ocorre-me agora que o medo é inclusive um fator primordial do ódio. Quantos odeiam o diferente por terem medo dele? Do que eu tenho medo quando evito falar de sentimentos e sensações que julgo errados? Temo me desconhecer, temo que ao trabalhar com significantes novos eu me desencontre de quem acho que sou. Só que agora, depois de escrever essas linhas que ainda nem sei ao certo que efeito terão em mim, tenho a certeza de que foi bom me desencontrar. Porque só assim me encontrei nova. E saí do castelo de conto de fadas que eu mesma criara, mas que mais do que me proteger, me prendia.</span><o:p></o:p></span></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-32029611752711760662011-09-06T13:25:00.004-03:002011-09-06T13:41:44.606-03:00Não são assim todos os finais?<span class="Apple-style-span" style="color: rgb(51, 51, 51); font-size: 14px; line-height: 22px; background-color: rgb(220, 216, 210); "><div style="text-align: justify; "><p class="MsoNormal" style="font-family: arial, helvetica, 'times New Roman'; line-height: 120%; "><i><span style="font-size:10.5pt;mso-bidi-font-size:11.0pt;line-height:120%;font-family: "Georgia","serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman";mso-bidi-font-family: Arial;mso-fareast-language:PT-BR"><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"></span></span></i></p></div></span><span><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span> <span class="Apple-style-span" ><i>“É impossível viver e pensar ao mesmo tempo.” (Gonçalo M. Tavares, “O Homem ou é tonto ou é mulher") </i></span></div><div style="text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" ><br /></span></i></div><span><div style="text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" > <span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>"O homem no meio da escada hesitava há vários dias entre subir e descer. Os anos passavam e o homem continuava a hesitar: subo ou desço? Até que certo dia a escada caiu." (Gonçalo M. Tavares, “O Senhor Brecht”) </span></i></div></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, helvetica, 'times New Roman'; font-size: 14px; line-height: 16px; background-color: rgb(220, 216, 210); "><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; font-family: Georgia, serif; "><div style="color: rgb(23, 54, 93); "><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(51, 51, 51); font-family: arial, helvetica, 'times New Roman'; font-size: 14px; line-height: 16px; background-color: rgb(220, 216, 210); "><span style="font-size:12.0pt; line-height:120%;font-family:"Georgia","serif";color:#17365D"><span><br /></span></span></span></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 120%; "><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; font-family: Georgia, serif; "><span class="Apple-tab-span" style="color: rgb(23, 54, 93); white-space: pre; "> </span>Esses dois trechos do Gonçalo Tavares têm me feito pensar: quanto tempo nós passamos – e perdemos – pensando? Planejando, tentando entender, buscando acertar? Eu sei que eu perco muita vida assim. Tudo que me acontece eu tento enquadrar em algum lugar, tento organizar dentro de um plano de vida que eu acho que deveria seguir. Tenho medo do erro, medo da impossibilidade de voltar atrás. Medo de perder. Só que esse tanto de medo acaba me paralisando tanto que perco a chance de viver. Continuo sem poder voltar atrás e o que é pior: sem ir para frente, ou nem mesmo dar um passinho para o lado. O pensamento é uma prisão que crio tentando proteger-me do imprevisível. Mas não é possível, o imprevisível, o acaso, o incontrolável, tudo isso é parte inexorável da experiência humana. Mas mesmo sabendo disso, não adianta: continuo tentando me esquivar. Fujo tanto que acabo parada no mesmo lugar. E sempre que ouço alguém como Gonçalo falando me assusto: como é possível viver assim? Simplesmente fazendo o que tem que ser feito, escrevendo o que tem que ser escrito, falando o que lhe vem à cabeça e só aí se encontrando com suas próprias decisões? Admiro muito quem consegue agir assim. Eu estou sempre atrás de certezas. Atrás de garantias. Atrás. Estou atrás de mim, atrás das dúvidas e dívidas com as quais não quero arcar. Mas a vida sempre cobra seu preço. Só posso viver e ser feliz às minhas custas. Se evito pagar o preço do erro, o preço do risco, sou cobrada pela procrastinação e o tempo que passa e não arrefece. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;line-height: 120%; "><span style="font-size: 12pt; line-height: 120%; font-family: Georgia, serif; "> Por isso, por hoje, tentei deixar-me ir pela fala de Gonçalo. Escrever o que me atravessa sem tentar organizar o fim, por mais que isso doa. E me parece agora um final abrupto, mas penso: não são assim todos os finais? <span class="Apple-style-span" ><o:p></o:p></span></span></p></span></span>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-29626847569128259762011-08-22T14:32:00.001-03:002011-08-22T14:34:21.560-03:00Luto<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif""><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Luto para escrever esse texto. Reluto por não querer escrever as palavras que têm me escrito. Temo dizer o que não quero e, talvez, o que quero também. Teimo em dizer que não sei nada. Mas luto, reluto, temo e teimo por não conseguir entrar em acordo comigo. Parte de mim está com raiva, quer que essa história acabe e a vida siga. Outra parte quer entender, ainda, os pormenores, detalhes (in)significantes que fizeram nós, mas não deram laço. E há também a parte que não liga pra raiva, não quer entender nada, e só quer viver o que resta de amor, viver o amor que é sempre resto. E há ainda eu. Que não consigo escrever as frases acima sem encher os olhos de lágrimas. Que odeio não ser capaz de dar fim a confusão. Que entendo, não entendo, e odeio as duas coisas. É, parece que há muito ódio por aqui. Mas é que só quem ama é capaz de odiar. E eu amo, muito. Todas as minhas partes te amam e te odeiam ao mesmo tempo. Todas sentem você. Então teimo. Teimo em dizer que te odeio. Temo dizer que te amo. Reluto em dizer por que luto. Luto para não viver o luto. Luto para não viver sem você.<o:p></o:p></span></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-28194973813646194302011-08-10T10:54:00.003-03:002011-08-11T00:15:19.900-03:00Confraria dos TrouxasA partir de hoje tem post meu toda quarta na <a href="http://confrariadostrouxas.blogspot.com/search/label/4a.feira">Confraria dos Trouxas</a> . As postagens dessa semana são baseadas na música "Prato de Flores" (Nação Zumbi) e estão super legais, confere lá!Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-84780862080450509902011-08-08T22:17:00.000-03:002011-08-08T22:18:47.591-03:00Impensável“Eu sei muito bem o que você faria.”
<br />
<br /><div style="text-align: justify;">Ele disse isso e eu ri. Nem eu sei o que faria. É claro que digo que sei, que agiria de tal modo, que nunca faria tal coisa, que sempre faço assim. Mas digo isso pra me acalmar. Gosto de fingir que antevejo exatamente como me comportarei em qualquer situação. Perco horas, dias, anos de vida assim: imaginando, prevendo, decidindo quem eu sou. Só que aí a vida chega, cheia de acasos e situações imprevisíveis. Ou situações que previ mil vezes, todos os detalhes como imaginei, tudo encaixando perfeitamente. E aí eu. Um eu que não sei que sou, vai lá e responde de forma inesperada. Uma palavra fora do script sai da minha boca. Um gesto impensável me escapa. Impensável: palavra das mais assustadoras pra mim. Eu que me escondo atrás de pensamentos, tentando não ter que me deparar com a minha própria imprevisibilidade. Porque eu sei que a vida é imprevisível e todo esse blá blá blá que eu mesma repito incansavelmente. Mas o que me assusta não é isso. Meu problema não é que aconteça algo fora do previsto, mas que eu reaja de um jeito diferente. Por exemplo, acaba de me ocorrer algo tão estranho que quase ignorei, mas vou escrever. Pensei: quanto mais tento prever e antecipar, mais me apavoro ao reagir de forma diferente. Sem padrões previamente estabelecidos, posso ter qualquer atitude que não estarei me contradizendo. Quase sinto alívio. Por quase um segundo. E aí penso que, para isso, terei que parar de pensar. E viver. Não o futuro ou o passado, não analisando o que já foi para preparar-me para o que virá, mas o agora. Chego a rir do clichê, “viver o presente”. Mas eu sou feita de clichês. E também não sou. Eu penso demais, fujo, me escondo, mas também ajo sem pensar, fico, me exponho. Eu sou todas essas contradições, e outras mil. E por isso vou agir de forma inesperada muitas vezes. E vou agir exatamente como ensaiei em outras tantas. Por isso, vou continuar pensando, planejando, ensaiando. Mas, a despeito de mim, às vezes, me pegarei vivendo.</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-40612618627812616342011-07-26T13:36:00.008-03:002012-04-01T13:45:47.179-03:00Verdade?<p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; text-align: justify; "><span style="font-family: 'Bookman Old Style', serif; "></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; "></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 100%; text-align: justify; font-family: 'Bookman Old Style', serif; "><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif"; color:black;mso-themecolor:text1">Desde o dia em que assisti o filme “O Bigode”, de Emmanuel Carrère, tenho pensado sobre a verdade. No filme, passamos o tempo inteiro sem saber qual é a verdade <i style="mso-bidi-font-style:normal">de fato</i>, e nem ao final dele essa resposta é dada. Afinal, o que é a verdade? Ela existe? A verdade só tem esse estatuto se nós o damos. O que é verdade para mim pode não ser para você. E isso não quer dizer que um dos dois esteja mentindo. Acontece que não há nada que envolva o humano que seja objetivo. Tudo é sempre influenciado pela nossa percepção, pelo que acreditamos, pelo que sabemos, e, para complicar ainda mais, pelo que não sabemos também. Nosso inconsciente tem papel de protagonista nas nossas verdades e mentiras. Por isso sempre que mentimos dizemos muito de nós. Qual foi a história escolhida? A desculpa dada? O que omitimos? Tudo isso tem ligação com algo de nós que desconhecemos. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="font-size: 100%; text-align: justify; font-family: 'Bookman Old Style', serif; "><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif"; color:black;mso-themecolor:text1">Outro dia escrevi sobre como calar não era mais seguro do que falar. Pois mentir também não é mais seguro, nem mais perigoso. Contar, seja o que for, sempre cria laços. Tudo que dizemos e que nos é dito pode ser falso ou verdadeiro, pode inclusive ser verdadeiro quando foi contado a primeira vez e já não ser mais da segunda vez. Tudo pode ser falseado ou tornar-se verdade. Então essa verdade <i style="mso-bidi-font-style:normal">verdadeira</i> que muitas vezes buscamos é utópica. A imparcialidade é uma utopia, tudo que diz respeito ao humano é arbitrário. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="font-size: 100%; text-align: justify; font-family: 'Bookman Old Style', serif; "><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif"; color:black;mso-themecolor:text1">Sempre que alguém lhe conta algo você tem duas alternativas: acreditar ou não. Se formos checar a cada vez os fatos, buscar outras fontes, tentar fazer com que a pessoa seja “pega na mentira”, quem fica preso somos nós. O que importa é o discurso, não o conteúdo. </span><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif";mso-bidi-font-family: "Trebuchet MS";color:black;mso-themecolor:text1;mso-fareast-language:PT-BR">E, se criar uma ficção é fácil, mantê-la não é, e tudo que for feito na tentativa de sustentar essa “mentira” pode dizer mais que a verdade não dita.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="font-size: 100%; text-align: justify; font-family: 'Bookman Old Style', serif; "><span style="font-size:12.0pt;font-family:"Bookman Old Style","serif"; color:black;mso-themecolor:text1">Já ouvi diversas vezes que sou muito crédula. E que tanta credulidade seria incompatível com uma pessoa inteligente. Discordo. Entender que o mais importante é dizer, e não a veracidade do dito, é algo que só vem da sabedoria de que não se pode saber tudo.</span></p><p style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; "></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-58935447773632781002011-07-19T13:02:00.001-03:002011-07-19T16:08:24.935-03:00Fecho-me com cadeados de silêncio.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; ">Muitas vezes calo por medo. Medo de não saber o que falar, de falar e me arrepender, de falar errado. Mas calar não é mais seguro do que falar. Calar e não fazer tem tantos efeitos quanto falar e fazer. Basta nascer para que algo se ponha em movimento e não termine nunca, não importa quantos anos passem. O que falamos e calamos, fazemos ou deixamos de fazer, continua acontecendo em nós e nos outros por muito mais tempo do que gostaríamos ou temos intenção, ou mesmo muito além da nossa existência física. </span><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px;">Nossos efeitos são para além de nós, a inércia desencadeada por nossas atitudes e palavras é contínua e imprevisível. Ao começar esse texto não tenho como saber onde ele me levará. E, se publicado, passará a tocar não sei quantas pessoas, das maneiras mais diferentes imagináveis e inimagináveis, e não tenho controle algum sobre isso. Por isso calar parece mais seguro. Mas é apenas ilusão. Não falar o que preciso é tão ou mais perigoso. As palavras ficam entaladas e perco a capacidade de respirar. As palavras precisam ser ditas para que o mundo siga, para que haja a chance de algo além da repetição contínua. Mas é justamente isso que temo: o novo, do qual nunca sei. E tento então evitá-lo não fazendo nada. Mas fazer nada é fazer. É evitar riscos de perder, mas não ter a chance de ganhar. Fazer nada, falar nada, é encher ainda mais de vazio essa existência esburacada que é a minha. E há momentos em que o vazio parece transbordar de letras e atos, sonhos e fatos, que existem na minha cabeça e imploram para serem tornados reais, para existirem no mundo, para desempenharem sua tarefa de tocar os outros, de desencadear o que está trancado. Fecho-me com cadeados de silêncio. Calo, por saber que as palavras são como chaves: quando ditas abrem portas. E não sei o que essas portas encerram. Que segredos estarão escondidos no silêncio? Aqui, descobri um: calo por medo. E, agora descoberto, não posso mais ignorá-lo. Agora exposto, não posso mais desviar o olhar. Ali está meu </span></span><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px;">silêncio, que fala muito, me olha e diz: vai recuar mais uma vez? </span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; ">Quero recuar. Retroceder, retornar, desfazer. Repetir. Mas já não posso. Já falei, já escrevi, e as palavras me constrangem à atitude. Falo, então. Escrevo. E espero agora as consequências do que iniciei aqui, e que terminará muito além do fim do silêncio que me fez começar. </span></div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-19483855863774590562011-07-16T18:45:00.000-03:002012-07-03T22:24:45.535-03:00Ou é ou não é.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Bookman Old Style', serif; font-size: large;"><i>“Você anda bem feliz, né?”</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style', serif; font-size: large;">Li essa frase e me assustei. A felicidade me assusta. Sempre me assustou. Temo tudo que não pode ser analisado, entendido e explicado, e a felicidade não se presta à medição alguma. Ocorre-me agora que o amor também não. No entanto, eu me considero uma pessoa romântica até demais. Mas se for sincera, sincera mesmo, aquela verdade nossa que nem conhecemos direito, teria que dizer que tenho também medo do amor. E, o que é pior, não tenho só medo que dê errado: tenho medo que dê certo, também. Aliás, certo e errado são conceitos que tem me tomado muito nos últimos dias. Porque eu acho que faço tudo errado, principalmente quando amo. Aceito o que não devia, falo o que não podia, calo o que teria que dizer. Mas todos esses “devia, podia, teria” são racionalizações. São idéias e ideais que uso como se fossem tijolos e cimento necessários para construir. Um muro ou uma casa, não sei. Não sei nem se construo para me proteger ou para me prender. Acho que as duas coisas. Construo pensando que estou me protegendo, quando na verdade estou me prendendo. Afinal, proteger-me do que? Da dor, do fim, do não-saber? Mas há vida sem isso? Fujo da falta de sentido tanto quanto do excesso de sentimento. E escrevo muita besteira tentando entender e explicar. Excesso de sentimento, desde quando isso existe? Não se ama muito ou pouco. Ou ama ou não ama, e amando há todas as constantes inconstâncias de sentimento: dentro do amor cabe quase tudo, e percebo agora que cabe o medo também. O medo que mata o amor é o que está fora dele. Do lado de dentro, o medo é só mais um dos milhares de sentimentos que fazem do amor, amor. Sentimentos ruins, bons, certos e errados. Não há quantificação nem qualificação para o amor. Ou é ou não é. É. Amo. Por isso faço tudo errado, por amor. E, por amor, tudo dá certo. </span></div>
</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-11310770714910193852011-07-12T19:50:00.002-03:002011-07-13T10:29:00.700-03:00Escrevo para dizer o que não sei falar.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px; ">Gostamos de recordar e pensar no que não percebemos à época, imaginar que tal coisa poderia não ter acontecido, ou que tudo seria diferente se apenas tivéssemos sabido. Mas é sempre impossível saber onde terminará o passo ao levantar o pé. Só na linha de chegada é que descobrimos qual era o nosso destino, porque ele não existe sem a caminhada.</span></div><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px; "><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span">Falo disso porque era o que estava fazendo agora, antes de começar a te escrever essa carta. Estava me lembrando do nosso reencontro virtual, o primeiro contato depois da noite em que nos conhecemos. Foi uma conversa curta, em que me senti completamente segura, protegida do real dos seus olhos e do desejo. Apenas nós e as letras.</span></div><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span">Como eu poderia saber? Naquele momento era impossível desconfiar que seriam justamente as palavras que me derrubariam de vez. Afinal, como prever que as suas palavras iriam inscrever-se em mim de tal forma que delas nasceriam novas palavras, e outras, e tantas, em mim, em você, atando-nos um ao outro cada vez mais? Quem diria que mais de um ano após aquele jantar, com aquele fim, sem nenhuma indicação de continuidade, eu estaria de madrugada escrevendo e endereçando a você palavras digitadas em uma tela de computador? E, mais que isso, que seriam palavras assim, íntimas, envergonhadas, que carregam em si um pedaço meu? E agora, o que será que acontecerá com essa carta? Nem eu sei que rumo ela tomará ou qual será o seu fim, pois escrevo por necessidade de te dizer o que não sei falar.</span></div><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify; ">Tento me lembrar para poder explicar. Mas não sei dizer porque continuo ao seu lado. Você roubou-me o que eu tinha de mais caro - minha adorada ilusão de controle - e ainda assim só o que eu quero é você. Ou talvez não seja "ainda assim", talvez seja "porque" você tomou a minha maior ilusão que te quero tanto. Talvez seja pelos motivos escritos, reescritos, inscritos, que me assaltam de forma tão intensa nos momentos mais inesperados. É engraçado, escrevi isso e imediatamente me vieram sua imagem e sua voz dizendo: "Mas você não acha que isso é porque ..." e dá uma explicação que não consigo imaginar. E é exatamente isso. Porque eu te lembro, te sonho, te desejo, mas não sei te prever. E nem quero. Talvez fosse isso o que eu precisava te dizer. Que eu não sei. Que tenho mil motivos e nenhuma explicação. Que estar com você é uma escolha feita a cada dia, a cada vez. Ao seu lado caminho de olhos fechados, e dou o próximo passo sem medo. Porque na nossa história o tropeço é sempre um novo começo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></span>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-85431530365625618432011-06-28T16:38:00.000-03:002011-06-28T16:40:15.870-03:00FemininoEssa semana tem post meu lá no <a href="http://feminino6.blogspot.com">Feminino</a> , confiram! <div>:)</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-43699038447794225022011-06-21T21:40:00.000-03:002011-06-21T21:44:10.706-03:00Precipício, príncipe, princípio.<div style="text-align: justify;">Há momentos em que a minha falta de controle me assusta tanto que tenho vontade de ficar parada, muda, como se assim pudesse evitar qualquer passo em falso. É difícil aceitar que fazer nada tem tantas implicações quanto fazer alguma coisa. Fazer nada, calar, não escolher, implica em continuar, repetir, manter o padrão, e isso costuma me acalmar - mesmo quando o padrão é horrível. </div><div style="text-align: justify;">É muito mais fácil lidar com uma certeza ruim do que com uma imprevisibilidade qualquer. Escrevo isso e acho um absurdo, e que é claro que não é assim. Mas é. Pelo menos para mim, na maior parte do tempo. Sinto como se minha vida pudesse ser vivida dentro da minha cabeça. Então, de repente, alguma coisa me empurra e me tira do torpor. Por exemplo, um ato falho. Ontem ia escrever <i>precipício</i> e escrevi <i>príncipe. </i>Desde então essa troca de palavras tem me invadido - é exatamente isso que sinto, uma invasão. Qualquer ato não planejado, seja uma palavra fora do lugar, uma atitude inesperada, minha ou do outro, me assalta e sinto a perda daquele controle imaginário a cada vez. </div><div style="text-align: justify;">Era de esperar que a essa altura eu já tivesse deixado esse controle ilusório de lado, já tive mais do que provas de que não é possível controlar a vida. Algumas vezes foram boas surpresas, outras imprevistos difíceis, mas nunca pude evitá-los. A única possibilidade que me resta é lidar com o que me acontece da forma que me for possível. Mas não me conformo. Acho pouco. Quando digo que a inteligência é um problema muitas vezes riem de mim, mas realmente ela me atrapalha, e muito. Por conseguir resolver tudo em teoria, acredito que deveria ser capaz de fazê-lo também na prática. Por saber muito, acho que deveria poder muito também. Mas quanto mais sei, menos vivo. Quando mais entendo, menos sinto. E enquanto isso o tempo passa. O tempo passa, a vida acontece, faça eu o que fizer. </div><div style="text-align: justify;">Ontem ao escrever esse ato falho pensei: chega, hoje não vou escrever mais nada, não consigo escrever nada direito. Foi então que me dei conta que tinha, nessa troca, me escrito muito mais do que se tivesse completado a frase original. Resumi ali minha sempre presente ambiguidade entre pular e cair, amar e fugir, acreditar e desconfiar. E, mais ainda, depois de <i>precipício</i> e <i>príncipe</i>, me veio a palavra <i>princípio.</i> Começo e fim, medo e desejo, todos esses contrastes que estão no mesmo lugar. O ponto é sempre o mesmo, o que desejamos e tememos, o que nos define e nós definimos. Aquela palavra, estranha, inesperada, errada, me escreveu. E, ao tomá-la e reconhecê-la como parte - mesmo indesejada - de mim, pude me inscrever, mais uma vez no mundo que existe fora da minha cabeça. Esse mundo que tanto me assusta, de que tanto fujo, mas que busco, querendo ou não, tornar-me parte.</div>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-50577048358468929552011-06-19T13:36:00.000-03:002013-10-20T12:06:24.247-02:00Do lado de dentro.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 12.0pt;">Estávamos em pé, do lado de fora, encostados à parede do prédio, o abismo aos nossos pés. Todo o cenário era estranho, o prédio desconhecido, não era o meu e nenhum dos seus. Conversávamos. Não me lembro o conteúdo da conversa, mas falávamos de nós. Discutimos. Você falava crueldades, aquele tipo de coisa que só falamos a quem amamos; não somos cruéis com quem não nos importa. Eu, apavorada, chorava. Você quase ria. Ridícula. Foi disso que você me chamou. Acreditei e te odiei. Odiei que você não entendesse que era tudo por você. Odiei que você entendesse que era tudo por você, e por isso ficasse tão irritado. Odiei não entender nada e me exasperei quando você disse que também não entendia. Pausa. Silêncio. Suposta calma. Tento reconciliar – porque acho que não sei fazer outra coisa – e novamente a raiva. Tua e minha. Mais silêncio. Cansaço. Sozinha, sinto o desespero da espera. Certeza de que não sairemos dali vivos. O chão era muito pouco, qualquer passo em falso nos faria cair. Paraliso. Tenho medo de falar, pois falar é deslocar, e não quero morrer. Fico sozinha com meu medo, não arrisco aproximar-me de você. Mas te olho. Você sorri. Nós caímos.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-91764482364005767652011-06-10T00:39:00.003-03:002011-06-18T01:09:30.016-03:00A medida do impossível<p class="MsoNormal"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span class="Apple-style-span">“- Vamos pegar uma mesa? O pessoal já está descendo.”<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">E se eu tivesse dito não? E se respondesse que preferia esperar ali pelos outros? E se o “pessoal” realmente descesse logo, e não duas horas depois? Peguei-me fazendo essas perguntas como se fossem possíveis. Como se tudo já não tivesse acontecido do exato jeito que foi. É tanto acaso, tanto não saber, que me assusto. A displicência com a qual vivi esse e os primeiros encontros me dá medo. E se não existisse facebook? E se não estivéssemos online no mesmo momento? Tantos “<i style="mso-bidi-font-style:normal">e se” </i>que parece quase um milagre termos nos encontrado. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Milagre ou não, o fato é que, um ano depois, estamos aqui. Um ano depois, minha vida não tem nada a ver com a vida que eu levava na noite em que nos conhecemos. E boa parte disso é por sua causa. Não discorde, não negue, apenas leia. O nosso encontro mudou a minha vida não só pelo amor, pela paixão, pelos beijos e todas essas coisas boas e felizes que vivemos. Mas porque com você aprendo a ver a vida de um jeito mais leve. Na primeira carta que te escrevi comparei-me a uma pedra, e você ao vento, e disse que só o que eu queria era admirar teu vôo. Mas o que aconteceu foi melhor. Você me ensinou a voar. Não tenho ainda grande autonomia de vôo, não me arrisco a dar rasantes, mas já consigo flutuar um pouco. Volta e meia caio, afinal uma pedra ainda é uma pedra, mesmo quando desfeita em grãos de areia. A cada queda me desfaço um pouco mais, e logo corro tentando me colar e pensar-me inteira mais uma vez. Mas quando me acredito inteira não vôo, a completude fictícia pesa demais. Penso que é necessária uma medida exata para que eu não me desfaça completamente, mas ainda assim consiga voar. Pensar em medida me remete à matemática, então tento calcular, mas não há razão que resulte na medida do impossível. E essa medida do impossível é a mesma que uso tentando controlar tudo que sinto por e com você. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Porque muitas vezes acredito que posso mesmo controlar. Que conseguirei dosar como e quando sentir amor, raiva, desejo, carinho... Mas a verdade é que não controlo nada. Sinto tudo ao mesmo tempo, mudo de idéia e me contradigo mil vezes. Nada com você é seguro, garantido, tranqüilo. Segurança, certeza e garantia eram as minhas palavras. Tudo em mim é (ou era) muito sério, pesado, medido corretamente e arrumado milimetricamente. Agora não consigo mais ter certeza da pontuação que usei na frase anterior. Minhas interrogações só aumentam, os pontos finais tornam-se reticências, e as vírgulas tentam desesperadamente pausar o ritmo acelerado do coração antes que ele exclame à exaustão. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">E no meio, e ao centro, de toda essa desarrumação está você. Não foram só as minhas pilhas de livros que nunca mais ficaram organizadas depois que te conheci. Eu nunca mais consegui me organizar. E o mais estranho disso tudo é que eu hoje gosto de entrar em casa e ver livros no chão, fora do lugar. Gosto de me pegar fazendo e pensando coisas que nunca considerara antes. Divirto-me até com meu destempero que me enerva, mas que vira graça no momento que você sorri. Quando você ri das minhas loucuras, me quebra. Quando você implica com a minha mania de organização, me derruba. Quando você puxa meu cabelo, me desmancha. Desde a primeira frase que te ouvi falar você me desconcertou. Você ainda me desconcerta. Aliás, acho que é isso: você me desconcerta tanto, que acabou me consertando. </span></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-55875906273044378192011-06-06T15:19:00.009-03:002011-10-10T11:58:02.173-03:00Falta<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="apple-style-span"><i><span>"A vida é a sós - e, o que é pior, também a morte."</span></i></span><span class="apple-style-span"><span><a href="http://www.skoob.com.br/lendo_historicos/excluir/831400"><span class="apple-converted-space"><span style="text-decoration: none; "> </span></span></a> Campos de Carvalho<o:p></o:p></span></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><o:p><span class="Apple-style-span"> </span></o:p><span class="Apple-style-span"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Quando li essa frase do Campos de Carvalho pensei que ela seria o começo perfeito para um texto que estava escrevendo sobre solidão. O problema é que sigo escrevendo esse texto e não consigo terminá-lo. De vez em quando retomo as poucas linhas escritas, penso em mil coisas, mas na hora de escrever não sai, e o que sai não gosto e apago. <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Não acho que seja à toa. Falar sobre solidão, morte, vazio, tudo que evoca a incompletude e a finitude inerentes ao ser humano é muito difícil.</span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Ocorre-me agora que um dos problemas, acho que o meu inclusive, é que falamos tentando não criar, mas apagar, desmerecer, superar. É muito comum falar de morte e solidão apenas como um lamento ou então como motivação para superação. Escuta-se muito por aí que “tudo passa”. Não acho que seja verdade. Lembrei-me de uma frase que me parece mais próxima da verdade: “<i style="mso-bidi-font-style: normal"><span style="mso-bidi-font-weight:bold">Tudo passa, neste círculo infinito. Nada passa</span></i><span style="mso-bidi-font-weight:bold">.” (Marcos Bassini). Isso me remete ao fato de que sim, as coisas passam, mas deixam marcas. </span>Passar não significa apagar. Tudo que acontece, e muitas vezes o que não acontece, deixa marcas indeléveis, muitas vezes bem enterradas, escondidas no fundo do inconsciente, mas que sempre retornam. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Quando perdemos alguém, seja para a morte ou para a vida, perdemos um pouco de nós mesmos também. E essa perda deixa marcas, a presença do pedaço que falta, e que vai estar sempre ali. Tentamos moldar, preencher, esconder, mas somos feitos de mais do que carne, e a matéria humana não é tão maleável assim. Não há palavras, sentidos, ou explicações suficientes, a falta sempre escapa.<span style="mso-tab-count:1"> </span> <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"> Quando falo da falta não me refiro apenas à morte ou outras perdas concretas, falo também da solidão, esse “A vida é à sós” de que falou Campos de Carvalho, a noção de que no fundo há um vazio que nunca será preenchido. Então, se não há preenchimento possível, e se nada passa, por que falar, por que escrever? Não para apagar, mas para contornar. Para construir com palavras uma borda que seja no vazio, uma fronteira feita de laços. Laços que quando são reais não se desfazem com a ausência, nem com a morte, eles contornam, amarram, seguram. Nascemos e morremos sós, mas as palavras já nos diziam antes de nascermos e continuarão nos escrevendo depois de morrermos. E é por isso que escrevo. É que, quando escrevo, não estou só. </span><span class="Apple-style-span"><o:p></o:p></span></p>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3651592880578989864.post-53391100289122416482011-06-03T13:52:00.000-03:002011-06-03T13:54:03.824-03:00Silêncio.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZu9JStCVjUXo9IgxmxvHITK0-bmQ9r9ZhhcJ_Vd1iwp6CJvZbM04CXLnOYHAjrQIbHuFDf-ZrqmD1hJYh5y52SkCAnaSCQRX3OnkihXLs2QTGsk0EPCQYYPpWN5FBbvPJwu10syTHV4c/s1600/sil%25C3%25AAncio.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 220px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZu9JStCVjUXo9IgxmxvHITK0-bmQ9r9ZhhcJ_Vd1iwp6CJvZbM04CXLnOYHAjrQIbHuFDf-ZrqmD1hJYh5y52SkCAnaSCQRX3OnkihXLs2QTGsk0EPCQYYPpWN5FBbvPJwu10syTHV4c/s320/sil%25C3%25AAncio.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5614037745315819890" /></a>Carina Destemperohttp://www.blogger.com/profile/18385510423606218170noreply@blogger.com8