quarta-feira, 16 de março de 2011

Doces Memórias

(...) continuamos andando, lado a lado, até um trecho que tinha uma carcaça de barco no mar, você se lembra? Eu lembro porque foi aí que paramos, para ver o tal barco, e você me tocou. Você só encostou, segurando muito de leve o meu braço. Mas bastou isso. Em um segundo fui completamente tomada pelo desejo e o pânico que sempre o acompanha. Você sentou-se na mureta. E eu, de repente tão nervosa, fiquei em pé. Falamos de poesia. Eu disse que “Ou Isto Ou Aquilo” era meu livro favorito na infância. Você recitou um trecho. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. Quais as chances de sair com um homem capaz de recitar Cecília Meireles? E, mais, a tua voz. Você recitava com aquela voz, e me olhava com aquele olhar. Pensei que fosse chorar, ou rir, alguma coisa ia acontecer. Então você me puxou, me abraçou, e me beijou. E me beijou. E segurou de leve meu cabelo, daquele jeito que você hoje sabe tão bem que me desmancha inteira. E era tudo bom. O beijo, a mão no cabelo, a voz no ouvido, os olhos nos olhos. Eu teria ido com você pra onde quer que fosse naquele momento. Mas nunca imaginaria que acabaríamos na praia que tantas vezes fui quando criança. Um lugar que me era cheio de lembranças infantis, de família, daquela felicidade doce e plena que experimentamos algumas vezes na infância e ficam guardadas para sempre em nós. Ao levar-me ali você, sem saber, ativou algumas das minhas mais doces memórias. E eu, sem saber, deixei que você se alojasse junto a elas.

3 comentários:

Ana SSK disse...

Romance nostálgico.
Em busca do objeto perdido.

Carina Destempero disse...

Como todos, não? Sempre buscando o objeto perdido que nos falta, e nunca encontrando-o.
O bom é que, às vezes, nos perdemos, e aí podemos encontrar outra coisa. ;)

Teresinha Oliveira disse...

O desejo é assim mesmo. Vai de metamorfose em metamorfose, morre e se recria, vira cinzas na desistência ou na desilusão, mas de repente eis o ovo,e Phenix sai voando por aí. Quem tem sorte, faz ninho.

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