"Temos que lutar sempre.”, “Tudo é possível." e “Você é capaz se acreditar.” são os temas principais de 127 horas, certo? Bem, pode-se até dizer isso, mas eu não concordo.
O filme mostra o protagonista, Aron, e os cinco dias que ele passa num canyon no meio do nada depois de cair e ficar com o braço preso por uma pedra. Durante todo o filme temos alguns indícios de como Aron vivia: nunca avisava a ninguém aonde ia, não atendia os telefonemas da mãe, e duas frases em cenas com a (ex)namorada me chamaram a atenção: em uma ela brinca perguntando qual era a combinação para entrar no coração dele. Aron responde: Se eu te dissesse teria que matá-la. (Claro que é uma brincadeira, mas são palavras e elas sempre dizem alguma coisa.) E a outra, ao terminar o namoro, em que a ex lhe diz: Você vai ficar muito só, Aron. Essas são cenas das quais Aron lembra-se durante os 5 dias preso. Aliás, tudo que ele lembra ou alucina tem a ver com o mesmo tema: auto-suficiência e solidão. Aron, até aquele momento, acreditava poder viver só e não precisar de ninguém.
Quando sai para a escalada mostrada no filme, ele, como sempre, não avisa a ninguém onde estará. Depois de algum tempo preso vem o pensamento inevitável: se soubessem onde ele estava possivelmente teria sido resgatado logo. A lição do filme poderia, então, ser a de que ninguém vive sozinho, não somos auto-suficientes, precisamos do outro. Mas ainda acho que não é disso que se trata. É claro que, para quem, como ele, era tão individualista, a situação que viveu, e tudo que percebeu, tem esse lado de mostrar a importância de passar pelo outro. No entanto, se não fosse tão acostumado a fazer tudo sozinho talvez Aron não tivesse sobrevivido.
O interessante do momento em que Aron pensa sobre esse resgate que não virá em conseqüência do fato que ele não disse à ninguém onde estaria é a constatação de que o modo que leva sua vida, suas ações, cada atitude, o levaram até aquela situação. Passou-me uma idéia de que mesmo com todo o acaso de escorregar, a pedra cair e prender seu braço ele ainda assim se responsabiliza por aquilo que lhe acontece. Aron, numa experiência limite, não fica preso à culpa nem se faz de vítima, lamenta, reclama. Ele toma para si a responsabilidade. Ele é como é, faz o que faz, e isso traz conseqüências, algumas boas, outras ruins. Ele assume que tudo que lhe acontece, por mais casual que seja, tem a ver com sua posição na vida. E me vem agora, o que não tinha ainda me ocorrido, que talvez por isso ele tenha conseguido permanecer são e salvar-se.
Por isso, muito mais do que a importância de não se isolar ou de acreditar-se capaz e alcançar seus objetivos, o que me restou do filme foi a responsabilização pelo que nos acontece: cada pequeno passo dado na vida leva a outro e disso fazemos nosso caminho, e mesmo o maior acaso terá sempre diferentes conseqüências dependendo da posição de quem o vive. O que nos cabe é, então, responsabilizarmo-nos por nossa vida, que engloba tanto nossas atitudes conscientes e inconscientes como nossa reação aquilo que nos acontece e não está sujeito ao nosso controle.
Espero que eu, como Aron, consiga submeter-me a isso.
1 comentários:
Estou absolutamente adorando esse lado cinéfilo seu, rs. Interessante enxergar os filmes por um novo ângulo. Aliás, minha curiosidade-mor agora é saber o que você diria sobre Cisne Negro, rs. Já que, apesar dos possíveis defeitos do filme, ele foca bastante na mente, né? Se um dia resolver comentar ele, me fale que venho ler.
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