sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Inteligencia e/ou amor

E então eu tenho quatro textos rascunhados há mais de dois meses sem conseguir terminá-los. Volta e meia retorno a eles, apago a metade, escrevo mais um tanto e de repente empaco. O que eles têm em comum além do fato de que eu não consigo colocar-lhes um ponto final? São todos textos "inteligentes". Textos sobre cultura, psicanálise, crônicas sobre o social. E aí hoje li um texto da Inês Pedrosa falando sobre a crença no amor, o segundo que li essa semana abordando o tema, e pensei: que saudade de escrever sobre o amor. Eu sou dessas pessoas que, como a Inês, acredita no amor como outros acreditam em deuses e santos. Eu adoro estar amando, não tenho problemas em me apaixonar e não me retraio por medo de sofrer. Mas, ao contrário do que possa parecer, isso não é uma coisa bonita e altruísta, nem mesmo corajosa. É apenas como as coisas são. Porém, como boa neurótica, eu não gosto de aceitar as coisas como elas são. Então, dentro do meu sintoma, crio uma dicotomia: ou sou inteligente, ou amo. E passo a vida, e perco a vida, buscando equilibrar duas coisas que só são opostas por invenção minha. A verdade é que eu realmente adoro falar de amor, ler sobre o amor, pensar, não entender, me irritar, ficar feliz, tudo ao mesmo tempo e sem ordem alguma. E também adoro ler textos de Lacan dos quais entendo pouquíssimo, passar horas conversando sobre as feridas narcísicas da humanidade ou explicando porque acho que o saber é hoje o deus mais cultuado no mundo. Só que, por algum motivo, é difícil pra mim aceitar que não são duas coisas, ou que até são, mas ambas estão misturadas em mim. E que o que escrevo vai surgir de acordo com o que acontecer na minha vida, e não porque eu decidi que já escrevi muita coisa romântica e está na hora de ser mais intelectual. Até acredito que para outras pessoas funcione assim, mas comigo não. Outra coisa que preciso aceitar: minha escrita, pelo menos aquela que me parece afetar os outros, não é racional. Meus textos "bons" são escritos no ímpeto, com algum trabalho depois, claro, mas o corpo tem que vir todo junto, de uma vez, senão nem adianta continuar. Por isso esse texto. Porque hoje, enquanto eu tentava relaxar para terminar algum dos outros, eu li sobre o amor, e o amor mais uma vez se escreveu, e tive a sensação que precisava escrever isso, preciso parar de lutar contra um pedaço de mim, para que todos os meus pedaços possam existir. Ao tentar eliminar um, elimino a mim, que sou todos esses pedaços desconexos, disformes e desencaixados que, na melhor das hipóteses, se deslocam e me fazem não parar.

6 comentários:

Talita Prates disse...

Sou fã da tua existência-mosaico, minha amiga tão querida...
Poxa, adorei o texto e a sua metalinguagem.

E me remeti à reflexão que fiz ainda ontem:
Fomos (e somos) expulsos do 'paraíso' não por conta da nossa fome de prazer, mas da nossa fome de saber.
Enquanto vivíamos só pelo prazer, éramos inocentes. Foi o desejo de conhecimento que nos 'corrompeu'.

O que é demasiado humano: somos (?)(ao menos, procuramos ser) inteligentes E amamos (ao menos, procuramos amar).
Haja vida para essa dicotomia não nos dilacerar!

Um beijo!

Ale disse...

Menina,

Inês é uma loucura.... Aliás falar de amor sempre é bom,

Quanto aos teus textos, ou sobre a impetuosidade deles: talvez seja nessas horas loucas, que a gente sente ao extremo, e por isso mesmo, sobre qualquer coisa, possa falar com mais certeza, e paixão,


E sobre os textos, talvez pra Ti não estejam prontos, mas quem sabe?


Inspiração,



Bjkas

Rafaelle Melo. disse...

É o primeiro texto seu que leio. Não conheço suas linhas sem impetuosidade, mas posso dizer-te que gostei e muito do que li.

Por alguns momentos ri, em outros identifiquei-me. Envolvi-me. Isso é oque chamo boa leitura.

Beijo.

Alicia disse...

eu acho que amor, alma, inconsciente, são todos a mesma coisa.

começo a pensar isso.

mas pensar com o cérebro nunca nos leva a lugar nenhum. bom mesmo é pensar com a pele. voltei ao amor!

texto lindo e eu.

rs

Danelize Gomes disse...

Texto lindo o seu.
Acho que o que está no inconsciente de vocês que escrevem muito bem sobre o amor, é puro amor.
Você exala amor, Carina.

Laura Vazio disse...

Texto que se enquadra perfeitamente na minha realidade... Porque também "crio uma dicotomia: ou sou inteligente, ou amo" e também pouco entendo Lacan... rsrs

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