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É curioso pensar nas conseqüências dos nossos atos ou do que nos acontece quando o tempo decorrido nos afasta da situação. Ao escrever agora sobre aquela noite tive uma percepção completamente diferente da que me tomou quando ela era, ainda, o suposto último encontro, e mesmo quando, duas semanas depois, deixou de sê-lo.
Lembrava-me de um encontro cheio de poréns, atrapalhado, esquisito, mesmo que tenhamos conseguido rir da situação e não levá-la tão a sério. E achava que isso era uma coisa ruim, que um encontro desses significaria, mais do que qualquer coisa, o fim. Hoje, no entanto, acho que foi justamente esse emperrado que nos levou a um novo encontro. Não houve um fim propriamente dito naquela noite. Mas será mesmo que veio daí o desejo de um novo encontro? Não há como saber. Mas o que percebi é que desde então a história que construímos se parece muito com aquela noite: cheia de falhas, de faltas, de imprevisibilidade, de atrasos, de separações...
Confesso que relutei muito antes de aceitar essa nossa relação. Acreditava que queria outra coisa: um relacionamento tranquilo, com alguém mais simples e em que tudo fosse mais fácil. Sempre achei que minha felicidade fosse diretamente dependente de estabilidade e organização. E talvez tenha sido, mesmo. Também por isso nunca gostei de mudanças. Mas elas acontecem, mesmo comigo, apesar de mim.
E fui descobrindo que para cada falha há um sorriso. Para cada atraso, um beijo. Para cada separação, um novo encontro. E me vi cada vez mais feliz onde menos esperava: no meio dos imprevistos, da indefinição e da incerteza. Porque, de repente, o susto virou surpresa. O surto virou desejo. E todas as decisões tomadas sem antecedência, sem análise, sem estudo, deram certo. De repente, a sorte. Uma sorte inacreditável, coisa de livro, coisa de filme, coisa nossa. E quem vai lutar contra a sorte?
Eu poderia. Acho que ainda luto, ainda lutamos. Mas a luta faz parte, também. Os recuos que são como a maré se recolhendo para voltar numa onda maior. Não temo mais que a onda me derrube. Arrisco o passo sem saber se será adiante, se será tropeço, ou se será queda. Não importa. Cair não me apavora mais. Porque na nossa história o que é fim, de repente, se torna começo.
10 comentários:
Ai, ai, ai.
Arrepios.
Mais arrepios.
Luta e luto fazem parte. O luto por nós, que nos modificamos a cada segundo. A cada desejo revelado, o querer velado. A cada queda, um frio na barriga. O chão.
As vezes o chão vale a pena. As vezes a queda é tudo o que importa. E a gente escolhe pagar esse preço...
A minha felicidade é a organização do grito.
Muito lindo, querida!! Perfeito demais mesmo...
Estou vivendo esse momento e você me traduziu!
Beijo grande!
Que mágico, comigo aconteceu da mesma maneira. De desencontros a vida se faz encontro, sempre presente. Não perdemos quem está destinado a nós. Felicidade pra você moça. LIndíssimo texto seu.
Beijos, te sigo pois quero ler mais 'linduras' como essas :)
É amiga! Ainda que em luto emocional, lutamos pela luta da alma que só o coração entende e se agalharda em suavizar para nós....
Bj.
Catita
Lindo, lindo... ("lindo" vai para a forma da escrita... Sei quanto o conteúdo não tem nada de "lindo", necessariamente. Aliás, como dói!)
Maduro, mais que lindo.
E, sim: ARRISCAR é verbo imprescindível.
Um beijo, Carina.
Talita
História da minha alma
"Os recuos que são como a maré se recolhendo para voltar numa onda maior."
haverá amores verdadeiramente tranquilos? :)texto que a ninguém deixa [obviamente] indiferente.
um abraço, querida amiga!
Há coisas que terminam antes mesmo de começar, outras ficam eternamente vivas num fim sem começo...
Talvez a diferença elas esteja tanto (ou um tanto) na sorte quanto nos atos imprevisíveis e surpreendentes que contagiam o curso dos acontecimentos...
;-)
Ai, que lindo. Lindo e perfeito.
'Porque, de repente, o susto virou surpresa. O surto virou desejo'.
E quando, de repente, a sorte. E, de repente, a escolha pelo verbo arriscar nos segreda motivos que extrapolam a grafia porque pertencem a algo a que não sabemos dar nome. Mas que vale a pena, sempre vale. Com queda e tudo.
Beijo grande de quem te admira como se te lesse há tempos.
Em tudo que vivemos ou fazemos,
há o ritmo, o ir e o voltar.
o avanço e o recuo, é o que equlibra tudo.
Por favor escreva mais!
Adoro ler vc.
Bjo.
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