domingo, 17 de abril de 2011

Resenha - "Coração tão branco"


Imprevisível, irrecuperável e irremediável

“(...) as mulheres sentem uma curiosidade sem mescla, sua mente é indagatória e bisbilhoteira mas também inconstante, não imaginam ou não antecipam a índole do que ignoram, do que pode vir a ser averiguado e do que pode vir a ser feito, não sabem que os atos se cometem sozinhos ou que uma só palavra os põe em marcha, precisam experimentar, não prevêem, talvez estejam dispostas a saber quase sempre, em princípio não temem nem suspeitam o que se possa contar-lhes, não se lembram que, depois de saber, às vezes tudo muda, inclusive a carne, ou a pele que se abre, ou algo que se rasga.”

“Coração tão branco” teve precisamente esse efeito em mim: tudo mudou, minha pele abriu-se e minha carne foi rasgada. Fui cortada pelo livro como podemos ser raras vezes na vida, justamente em momentos em que nos permitimos não imaginar, nem antecipar, nem temer. Em “Coração...” Javier trata de questões que acredito serem caras a qualquer um que se interesse pelas desventuras humanas que vivemos a cada dia. Ele fala da força das palavras e do silêncio, do saber e do fazer, do não-pensar, do medo, do escutar e do dizer, do que é uma vida a dois. Acima de qualquer coisa fala do que é imprevisível, irrecuperável e irremediável: a vida.
O enredo em si não foi o principal na minha leitura, é uma história muito interessante, que começa com um acontecimento impactante e desperta interesse no livro. Mas a partir daí o que me moveu palavra após palavra, o que me tirou o fôlego, cortou a carne e apertou o coração foi a escrita de Javier. O modo como ele faz um ensaio sobre o humano, sobre sentimentos, relacionamentos, vida e morte, mas sem em nenhum momento dar a sensação de teorização. Ele está ali. O que ele escreve é parte dele que foi rasgada para ser oferecida a quem lê. O tempo inteiro a palavra que me vinha ao ler ou comentar o livro era a mesma: vida.
Então, o que tenho de mais importante para dizer sobre "Coração tão branco" é isso: é um livro vivo. As palavras de Javier cortam, rasgam, dilaceram, e acho impossível que alguém as leia sem ficar marcado para sempre. Mas apesar disso - ou talvez exatamente por essa razão - é um livro que indico para qualquer um que queira se aventurar nas agruras da alma humana.

*Pra quem não conhece, o skoob é uma rede social de literatura incrível que já me rendeu muitas coisas boas na vida.

5 comentários:

Lê Fernands disse...

adorei a dica.
gosto de histórias humanas e viscerais.


bjsmeus

Alicia disse...

muito bom...deu água na boca.
essa pulsão oral...rs

Anônimo disse...

Adoro te ler.

Catia Bosso disse...

Muito clara e correta a maneira como se expressa. Gostei! Prazer em conhecer seu espaço! bj.

Lívia Azzi disse...

Livros como esse de Javier são verdadeiros exercícios de viver, experiência de vida transformada em palavras, diria Nelly Novaes Coelho.

Fiquei curiosa em respirar desses ares!

;-)

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