quarta-feira, 6 de abril de 2011

Clara: Que Eu?

Saber, entender, definir, organizar, explicar, resolver. Lógica, certeza, sentido, razão.

Se Clara tivesse que escolher dez palavras para representá-la essas seriam as escolhidas. Sem dúvida. Dúvida, aliás, é uma palavra que nunca entraria no vocabulário de Clara. Ela sabia de tudo, sempre. Às vezes ainda não sabia, mas logo iria saber. Clara sempre acreditou que quanto mais soubesse mais previsível seria sua vida. E previsibilidade era o que Clara mais sonhava.

Mas era um sonho muito controlado, que sonhar demais é perigoso. Clara sempre andou com os dois pés no chão: fazia o que devia fazer, gostava do que devia gostar, tudo nela era correto. Clara era a filha exemplar, a melhor aluna, a amiga perfeita, foi menina para namorar, depois mulher para casar, e seria a mãe ideal para os futuros filhos.

Tudo seguia de acordo com o planejamento, até que um dia parou de seguir. Esse é o problema de organizar tanto, quando alguma coisa sai do lugar o castelo inteiro despenca. E Clara descobriu-se, de repente, no meio de escombros. Durante o desabamento ela perdeu pessoas, sonhos, toda uma vida perfeita e exaustivamente planejada. Mas sua maior perda ela só percebeu muito tempo depois: quando caiu, Clara perdeu seu Eu, esse que ela tinha levado tantos anos cuidando para que nunca saísse do lugar.

11 comentários:

Alicia disse...

Eus vão, eus vêm.

Algo fica. O que é?

Carina Destempero disse...

As letras e os restos.
:)

(Não costumo responder aqui mas adoro teus comentários, obrigada, viu?)

Teresinha Oliveira disse...

Talvez seja essa uma das grandes confusões da pobre alminha metódica e sem desejos além do já organizado.Recomeçar!Para onde? Com o que?
Pior quando o 'eu' é 'nós'. Só o tempo e a lógica colocam tudo nas devidas prateleiras.

Lívia Azzi disse...

A previsibilidade a sufocava tanto ao ponto de matar... E eis que Clara ressuscita no mundo perdido da imaginação... ;-)

Lívia Azzi disse...

“Os deuses quando querem nos castigar atendem as nossas preces” (Oscar Wilde)

Anônimo disse...

O eu/ser dela era o não-eu/não-ser, pois quando ela tirou os pesos/máscaras, descobriu "a dor e a delícia de ser o que é", como diria Caetano. A dor por desagradar, a delícia pelo alívio.

Leo disse...

Eu claro. fico e vou.

Lilian disse...

vem e vão.
Eu fico por aqui.
Um beijo.

Milene R. F. S. disse...

E os castelos supostamente seguros demais, construídos sobre areia, sempre desabam... beijos.

Ana Claudia disse...

Rosa de pedra (trecho)
"Giovanna com água é pedra em genuflexão e, porque se inclina, perde sua natureza excêntrica de pedra. Uma pedra não se rende, Giovanna."

http://annacronica.blogspot.com/2009/01/rosa-de-pedra.html

Um beijo pra você
(Pedra demora mais, mas também se transforma.)

Tito disse...

!!!

Postar um comentário