- O problema é que você sabe demais.
Sobre cada uma dessas situações eu teria algo objetivo a dizer: concordar, discordar, fazer ressalvas. Opinar. Eu tenho opinião para tudo, ou se não tenho acho que deveria ter. Eu sei muita coisa e sou completamente apegada a esse saber. Acho que tudo deve ser feito depois de ser entendido, medido, etiquetado e organizado. Sou mestre em definir, classificar, organizar. Eu acredito que posso prever o que vai acontecer, como vou me comportar, como o outro vai agir. Muitas vezes eu acerto, mas na verdade nem é preciso acertar. Porque as expectativas são assim: você as cria e elas vão ser correspondidas ou não. São apenas duas opções, ambas previstas anteriormente. Indo bem ou mal, já sei o que vai acontecer.
Só que a verdade é que viver não tem nada a ver com saber. Eu sei de um monte de coisas, sei como resolver problemas, entendo tudo de tudo e continuo sem perceber o principal: que o saber não vale de nada nas coisas que realmente importam. O que nos move, o desejo, o amor, essas coisas vem de outro lugar. São coisas que caem sobre nós, tempestades que nos fazem voar se nos soltarmos, mas derrubam se tentamos nos segurar. E eu me seguro a maior parte do tempo. Seguro-me em teorias, previsões, planos. Luto a todo custo para que nada aconteça fora do que previ. Fecho a porta, as janelas, me sufoco, presa num ambiente de ar morno, morto, parado, rarefeito e viciado. Tudo por medo. E eu sei disso. Mas, mais uma vez, o saber não me adianta de nada.
Preciso me soltar. Preciso pular e cair até que o ar puro infle meus pulmões e eu consiga voar. O mais paradoxal – e real - é que sei que um dos pensamentos que me segura é o que diz: há uma chance de que você não planeje nada e tudo aconteça de um jeito ainda mais maravilhoso do que quando você previu que daria certo.
10 comentários:
Leio-te como se eu tivesse escrito e recalcado, então. Suas palavras me soam quase como alucinatórias - o retorno do recalcado. O Real que não foi simbolizado.
Me soam como simbólicas - fio condutor que liga eu a mim. Letras que eu quero comer.
Me soam como imaginárias, identificação histérica que faço.
E escrevo, agora, algo que para muitos, não tem nada a ver com as suas palavras bonitas. Mas eu SEI (prever é a prova do erro) que você vai concordar comigo, que, sim, tem tudo a ver.
Como gosto de lê-la. Obrigada por escrever.
Ai amiga! Viver é uma arte e rir é outra arte mais poderosa ainda... quando nos preocupamos muito em viver, acabamos por nos esquecendo de que dar risada é uma necessidade mental/emocional/espiritual que temos.... Mas se nos preocuparmos em rir mais, dai naturalmente, estaremos vivendo sem ao menos termos planejado isso....
Boa reflexão a sua . Gostei muito!
bj
Catita
Para que eu fosse, mais uma vez, marcada pela verdade da minha neurose que tanto me segura.
Adorei!!
Refleti muito...
Beijo, querida!
normalmente a soberba ou a incompetência escondem-se atrás do boomerang do "você sabe de menos e jamais compreenderia isto".
tiques de [des]humanidades.
beijinho!
O conhecimento é uma fonte cujo embebedar intensifica a vontade de viver, todavia confesso que há momentos na vida em que precisão deixar a razão descansar e darmos chance ao que vem do coração.
Uma boa semana!
Oi Carina B.
Que delícia poder te conhecer assim te lendo.
Escreves com aquilo que na minha opinião é o ingrediente essencial de toda escrita: dizer o que tem vontade!
Sim, saber é importante, mas sentir penso que também é.
Beijo.
Olá Carina!!
Só sei que as coisas imprevistas e não planejadas sempre tiverem um sabor a mais do que aquelas que eu previa e esperava... Minha intuição funciona melhor do que as coisas que eu entendo. Mesmo assim, tenho medo, sempre tive e de muitas coisas, inclusive de viver. Talvez viver seja um exercício de bater de frente com o medo...
Beijos e carinhos!!
ninguém sabe tudo. sempre estamos aprendendo com a vida.
Às vezes a gente só precisa desaprender certas coisas e parar de incorporar diligentemente conhecimentos dos quais não necessitamos. Mas como é difícil isso!
É sempre bom te ler, Carina. Sempre.
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